Após um hiato de pouco mais de 2 anos, o ainda tímido cenário do Cavalo Crioulo na Europa recomeça a se movimentar. Entre os próximos dias 24 e 27, os admiradores do Cavalo Crioulo na Itália terão a oportunidade de ampliar os seus conhecimentos sobre o tema que é sua paixão, a partir de um evento integrado entre as associações de criadores italiana (ANACC), uruguaia (SCCCU) e brasileira. O evento, que será sediado na comuna de Scandiano, dentro da província Reggio Emilia na região da Emilia-Romagna, norte do país, contará com a colaboração de Fagner Almeida e Rodrigo Py, do Brasil, e Juampi González, do Uruguai.
Segundo Vittorio Rabboni, presidente da Associação italiana (a Associazione Nazionale Allevatori Cavallo Criollo), o evento visa a colaborar para o conhecimento do trabalho que se faz no Freio de Ouro, principal competição da Raça que mostra a habilidade do Cavalo Crioulo em diferentes provas. “A intenção é promover o conhecimento da montaria tradicional do gaúcho. Aqui temos muito conhecimento da montaria norte-americana, já que a Itália é o maior mercado dos Estados Unidos por conta do cavalo Quarto de Milha, para competições de Rédeas e Cutting… Mas agora está aumentando também o interesse pelo Cavalo Crioulo”, conta Vittorio. Na programação do evento, estão inclusos um curso de Morfologia, ministrado pelo Executivo Técnico da ABCCC, Rodrigo Py, e um curso funcional, ministrado pelo ginete uruguaio Juampi González.
O curso de Morfologia, conta Rodrigo, segue os moldes do que é utilizado nas capacitações dos jurados da ABCCC: “É um curso teórico-prático montado já há bastante tempo, que a gente faz em um dia. Em uma manhã, temos a parte teórica e, pela tarde, a parte prática, em que analisamos alguns animais”, explica. Além de ministrar o curso, o técnico ainda vai pôr em dia os registros — resenhas ou confirmações — de potros nascidos na Itália que sejam produtos de animais brasileiros (pai e/ou mãe). Fagner Almeida, fotógrafo oficial da ABCCC, idealizador do projeto Em Busca do Cavalo Crioulo e um dos principais motivadores da integração entre as associações italiana e brasileira, fará os registros fotográficos e audiovisuais do evento.
O Cavalo Crioulo na Itália
Chegado ao país por acaso, em meio a importações de cavalos mestiços vindos, todos os anos, da Argentina, o Cavalo Crioulo logo foi percebido como um animal diferenciado e ganhou de vez o gosto dos italianos. Tanto Vittorio Rabboni quanto Ana Paula Correa, brasileira que vive na Itália, citam resistência e adaptabilidade como as características que mais chamam a atenção na raça Crioula. “Nós apreciamos muito a resistência e a versatilidade do Cavalo Crioulo para marchas, passeios e outras atividades”, conta Vittorio. “No inverno, neva bastante aqui, então normalmente amanhece com a temperatura em torno de -4ºC e a comida é escassa. Mesmo com essas condições, o Cavalo Crioulo se adapta fácil e pode até dormir fora. É um cavalo rústico, e essa é uma característica que cativa quem vive aqui”, explica Ana Paula.
Completando 15 anos de história em 2022, a Associazione Nazionale Allevatori Cavallo Criollo passou a estreitar o seu laço com o Brasil recentemente a partir do estímulo fundamental de Fagner Almeida. Em contato com proprietários de Cavalos Crioulos enquanto fotografava a Fieracavalli na Itália em 2017, Fagner percebeu que alguns animais brasileiros não estavam com sua documentação regularizada, e ofereceu-se para mediar o contato entre os proprietários italianos e a ABCCC. “Apresentei esses documentos para a Superintendência de Registro Genealógico, e seis meses depois os italianos vieram para a América do Sul e conheceram a Associação”, conta o fotógrafo. A partir disso, estabeleceu-se a relação que segue até hoje. “A ABCCC deu total apoio para regularizar os animais, o que foi feito em um dia de campo antes da Fieracavalli de 2019, junto com o Freio Europa. Consequentemente, todo ano agora tem animais para serem regularizados”, conclui Fagner.
O primeiro criador italiano a comprar cavalos do Brasil foi o atual presidente da ANACC, Vittorio Rabboni. Hoje, além dos filhos desses cavalos, ele tem mais três aquisições brasileiras a caminho da Itália: duas fêmeas da Cabanha Mapuche e um garanhão da Cabanha Mapocho. Assim, aos poucos, esse mercado ainda pequeno, que hoje tem em torno de apenas 120 animais registrados e 15 potros nascidos a cada ano, vai conquistando o seu espaço no país europeu.
Se o Cavalo Crioulo chegou à península itálica sem que por lá se soubesse muito sobre a sua origem, hoje a situação já é bem diferente: os italianos conhecem e valorizam não somente o animal em si, como também toda a cultura que envolve a raça. “É lindo porque eles realmente gostam e vivem isso. Quando fomos a Verona para a Fieracavalli em 2019, estavam todos de bombacha, bota… Muitos deles falam espanhol, andam pilchados, querem aprender sobre o Freio de Ouro. Eles têm paixão pela tradição”, conta a brasileira Ana Paula Correa. Vittorio Rabboni confirma que a comunidade crioulista no país tem “um interesse pleno sobre o mundo do Cavalo Crioulo. O tipo de monta, a cultura, o vestiário, como se apresenta o cavalo, o Freio, a técnica…”. Segundo ele, “a Itália é o país europeu em que mais se tem conhecimento sobre a cultura do cavalo sul-americano”.
Próximos passos
Depois de fazer história organizando a primeira edição do Freio de Ouro em outro continente (o Freno de Europa), a ANACC pretende repetir o feito, mas só daqui a alguns ciclos. Até lá, continua a preparação e qualificação dos animais e ginetes, com eventos que já estão programados até o final deste ano e que incluem provas com gado, curso de doma, introdução à montaria sul-americana e a participação na Fieracavalli de 2022. Também está sendo planejada a vinda de alguns membros da comunidade crioulista italiana à Final do Freio de Ouro 2022, em setembro.
Vittorio comenta sobre o trabalho realizado pela Associação da raça no país: “Estamos fazendo muito por uma raça que ainda é pouco difundida, mas acreditamos que vai crescer nos próximos anos”. E ele reconhece que, para que isso aconteça, a dedicação deve continuar: “O crescimento virá sobretudo se apresentarmos motivos para comprar um Cavalo Crioulo, fazendo com que se conheçam as habilidades e características dessa raça”. É assim, com trabalho movido por paixão, que o nosso cavalo vai ganhando o mundo.
Mais sobre o tema
Ficou com vontade de conhecer mais a fundo as histórias e aspirações de quem integra a comunidade crioulista na Itália? Então não deixe de assistir ao episódio 1 do documentário Em Busca do Cavalo Crioulo, que acompanha a criação da raça Crioula no país.
Fonte: ABCCC
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